Sou do tempo das saias que se apertam na cintura e das rendas que imprimem romance no cruzar de pernas. Venho do tempo do pó de arroz. Aquele que veio com as tranças que se desenham das mais bonitas e delicadas formas num apanhado. E que ao deitar se deixam cair nos ombros. Soltas. Livres. Enormes. Sou desse tempo. Com ou sem palácio. Aia ou princesa. Calçada ou descalça. E se descalça, sonho nas rendas, no pó, no sonho.
Uso saia pelos pés. E a roda cerca-me. E o que eu adoro e aprecio estar ali escondida. Na minha privacidade da saia de roda.
Caminho com segurança. E na cintura exibo uma assertividade física que vem de dentro. Sou assertiva, inocente, rebelde, apaixonada.
Sou um filme de época. Seria um filme de época, se me tivessem deixado acontecer por essa altura. Se não, acontecia nos anos loucos. Fugia de casa com os meus cabelos endiabrados e as religiosas gangas a terminarem também na cintura.
Sou desses tempos e não sou destes. Se vivi outras vidas, não sei. Acredito. Não acredito. Mas sinto que não sou de cá, deste agora. Não. Sou assim, mas não quero o resgate. Quero-me onde estou, com o que sou. Sabem, sinto-me bem. Permite-me sonhar no que eu possa ter sido. Permite-me ter um delicioso imaginário e ver o mundo com surpresa.
Não sou de cá e vivo tão bem cá dentro.
E na verdade, às vezes não sou assim tão louca. Não. Estaria a mentir. Às vezes sou tão deste mundo. Banal. Mas não o suficiente para o ser. E ainda bem.
Haverá alguma coisa melhor que o sonho e o imaginário?
Gabriela Relvas
Saia * Zara
Camisa * Encontrei-a no fundo do baú! 🙂
Meias * Calzedónia (coleção anterior)
Sapatos * Tino González
Mala * Foreva
Colar e Anel * Calvin Klein
e
*NÃO SE ESQUEÇAM DE QUEM SÃO*
*Peço-vos*