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Foi numa noite normal de janeiro (de 2016) que assisti ao filme Joy. Uma biografia/comédia dramática sobre uma jovem brilhante, divorciada e mãe de 2 filhos, entregue a uma vida madrasta, até inventar um esfregão de limpeza genial. Agora que escrevi isto, pareceu-me a sinopse mais desinteressante de todos os tempos, só que o filme não era de todo desinteressante e a Jennifer Lawrence estava soberba. 

Eu, que não sou de fácil choro, sentei-me na sala de cinema à espera que o filme me provocasse qualquer coisa. E, provocou. Lembro-me até do ano e do mês em que o vi, coisa invulgar na minha espécie. Não que o filme tenha sido a melhor história contada que assisti. Não, não foi isso. Nem me apaixonei perdidamente por ele. Mas, foi ali qualquer coisa nos minutos finais. A possibilidade de alguém ser mais completo sozinho. Não que ela estivesse sozinha, porque finalmente estava bem rodeada.

Houve qualquer coisa que me ligou a “ela”. Mas a minha vontade de amor, ao perceber que aquela poderia ser a história de carne e osso que eu estava a construir sem consciência, ao mesmo tempo que sentia que era a história por mim procurada, com consciência, levou os meus neurónios a uma teia eletroquímica explosiva e daí resultaram experiências subjetivas nunca antes por mim sentidas. Parecia um prenúncio, baseado num cálculo matemático. E a quase certa possibilidade de eu ter adivinhado o meu futuro, desfez-me em lágrimas. Pior, fazia todo o sentido.

Hoje, depois de um belo dia de praia em julho de 2018, lembrei-me do meu momento Joy. Continua a fazer sentido. E, continua a parecer-me tão injusto quanto me pareceu na altura. Devíamos todos experimentar o amor no seu esplendor, mesmo que não nos fizesse assim tanta falta. Mesmo que fôssemos quase felizes e quase completos. Perdoem-me mas não acredito na felicidade a preencher totalmente um tubo de ensaio. De que serviriam as nossas experiências só com um reagente químico?

Mas a ciência não nos diz como se faz para encontrar o amor. Poderemos ter uma ideia de como ser bem sucedidos e, mesmo sem talento, pô-la em prática e ter excelentes resultados. Mas com o amor não.

Agora que devíamos tentar, ai isso devíamos! Só que para infelicidade nossa, estamos demasiado ocupados com merdas. Assinamos quase todos um contrato de egoísmo. Preguiçosos, comodistas e convencidos. Somos isso tudo quando se trata de amor. E hoje, pior. Em 2018 não se fazem viagens de mais de 40 km para passearmos com alguém que acabamos de conhecer e quase sentimos borboletas. Os 40 km passam a definir o futuro. Em 2018, 40 km impedem-nos de emprestar um livro a alguém que achamos que vai gostar da surpresa. Em 2018 escolhemos por catálogo e perguntamos pelo tipo de carne. Eu, por exemplo, só compro perna de peru. Há quem só coma magras e esguias. Há quem só coma homens grandes e definidos e depois temos os vegetarianos, que só comem profissões e contas bancárias (mas estes vêm sendo comidos ao longo dos tempos).

Em 2018 estamos a esquecer-nos do mais importante.

Progresso? Somos todos umas bestas. E depois ainda nos dizemos inteligentes.

A Joy tentou. Só não encontrou. Que, também acontece.

Gabriela Relvas

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