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O barulho do mar acabava na areia, feito de camadas harmoniosas e insistentes no verbo acabar. “Fevum… fevum…” 

Os tempos do mar em harmonia com a serenidade do dia a arrefecer. “Quando a harmonia é tanta parecem não existir detalhes, mas sim quadros magníficos de cor”. A Amélia era tão transparente que os pensamentos dela formavam frases audíveis.  

“Aqui. Agora. De todos os lugares do mundo este é o lugar que mais amo. Sinto que pertenço à paisagem. Balanço com o mar e sou feita de espuma de maçã.”

Espuma de maçã. A Amélia afinal tinha um detalhe no quadro magnífico de cor.

A poucos minutos a pé dali, cheirava a maçã. Via-se uma bacia a ser levada contra o avental com a ajuda da anca. Farta, não permitia o lugar à mais pequena das maçãs. A Esmeralda tinha acabado de assoberbar a bacia com a ajuda do Ávila que as colhia num equilibrismo rebelde em cima do escadote. Amanhã alguns frangos iam ficar sem cabeça e a bacia ia ficar novamente cheia. Os pais da Amélia formavam uma equipa com vários anos de experiência.

Sem dono, a Amélia continuou ali, na pedra mais alta do paredão.

A ambição era sobrenatural. Parar o tempo e fazê-los durar assim para sempre. “Como pode doer o coração numa pedra que me recebe ainda quente, frente à paisagem mais bonita que já vi.”

“Fevum… Fevum…”

Gabriela Relvas

P.S.: Lembrei-me desta música.

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