Tenho 65 anos. Tenho ganas de fazer coisas. Tenho. Tanta coisa por fazer. Tanta que já não vou fazer. Corro com a juventude dos 20 cá dentro, mas o arranque é de 60.
Escolhas minhas. Dias bons. Dias, torto. Dias, contente. Ou satisfeito. Dias, amargo. Tenho aquilo que construí. Dias em que às vezes digo… tanto! E outras digo tão pouco.
Quero fazer tanta coisa. Ainda me falta, sabes. Falta-me.
Tenho uma relação estúpida com esta coisa do digital. Ou melhor, não tenho. Não acompanho. Não gosto, não dominar estas coisas mostra-me que o tempo passou. Mostra-me o quanto foi rápido o sacana. Mostra-me que não me soube enturmar como queria. Dá-me ganas de gritar comigo. Para me abanar aqui e ali. E isto abana-me. Logo a mim, este ser inderrubável que construí. Já não me sei de outra forma.
Mas o tempo não dá para tudo.
*
Posso contar-te uma coisa?
Tenho 31 anos.
Quero fazer tanta coisa. Ainda me falta, sabes. Falta-me.
Corro com a alegria dos 15, mas o arranque já tem algumas varizes.
Tenho uma relação estúpida com esta coisa dos sonhos. Quero culpar o mundo e todos aqueles que não me avisaram que isto de ser feliz não é fácil. Logo eu, o sorriso leve, escancarado, invejado.
Ensina-me a saber agarrar a vida. A fazer muita coisa. Tanta. Ensina-me a ser um coração cheio aos 50, 60, 70. Ensina-me da forma que sabes. Ensina-me com os teus erros e as tuas conquistas. Ensina-me que vou acreditar em tudo.
E eu ensino-te a mexer nessa coisa do digital.
Desculpa-me não te poder ensinar mais. Mas não tenho a tua sabedoria.
Agora vai lá ao café Pai. Ter com aquele rapaz que andou contigo na escola.
*
Não te disse isto. Também não me disseste. Mas não era preciso.
Promete-me só que vou ser assim… tão grande.
GR