Parei de escrever e isso provoca-me uma angústia imensa. Vou começar assim, com os pontos da situação. E a situação é feita de várias situações, estando eu por isso, neste momento exato, a não saber empalavrar as coisas. Tenho-me lembrado das “palavras impossíveis de escrever” de Cesariny, em You Are Welcome to Elsinore. Tenho-me refugiado nos “emparedados”. Que poema tão bonito, aquele.
Quero com isto dizer que, abdicar do que nos apaixona não é mais do que assassinar o nosso dever de falar. Temos o dever de falar. Ou seríamos todos uvas do mesmo cacho e mais do mesmo sabor. Seríamos e somos dias que passam. E o pior é que somos e vamos sendo. Come-se e vai-se para a cama e viver é muito isto e mais nada. A complexidade e capacidade da nossa mente automatizou-se. Vivemos deste vício pavoroso e de vez em quando metemos férias.
Não sei se está certo ou errado, tenho as dúvidas todas do mundo. Mas a bem da honestidade sei que temos medo da nossa complexidade. Preferimos as nossas camadas superficiais ao resto, ao nosso estado incrivelmente bruto. Injetamos então nas veias uma verdade fabricada e acreditamos nela, porque para olhar para o mais profundo de nós é preciso ter coragem.
E foi com medo que olhei e vi o que suspeitava.
Gabriela Relvas
“Come-se e vai-se para a cama e viver é muito isto e mais nada. A complexidade e capacidade da nossa mente automatizou-se. Vivemos deste vício pavoroso e de vez em quando metemos férias.”
Haverá uma imensidão de seres que entendem perfeitamente o que dizes.
Tenho dias de insónias em que a minha mente não pára de construir frases. Tenho a infelicidade de muitas vezes não ter tempo de as escrever e desenvolver. E a vida de adulto que me levou do mundo humano de criar. Recordo-me em algumas dessas noites que em menino aprendi a ler e escrever e quis ser escritor. Um anuncio de máquinas de escrever fascinava-me e nunca a pude ter. A vida ocupa-nos demasiado tempo para que possamos ser humanos, pessoas e almas.
Um bom natal, um bom ano novo e gosto de ler o que escreves.
Beijinho
Paulo, é sempre bom receber as tuas palavras. Sabes o que te digo, a vida tem que ser mais. Eu vou à procura dela, com a consciência que o caminho poderá ser ainda mais duro. Ainda assim, vou.
Um beijinho