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Por favor, fiquem loucos. É só o que me apetece pedir-vos. Era o que te dizia se fosse a tua confidente e era o que te pedia em troca. Pedia para me dizeres: deixa-te ficar louca, muito louca. E tu dirias, se fosses de facto um amigo.

 

Já está, não há volta. É assim quando apareces. E como és seletiva! De tanto que és mão fechada há quem tenha medo de não te ver mais.

Pensar na eventualidade de uma vida acontecer sem ti, é pensar numa morte anunciada, arrastada às vezes por muitos anos em vida.

Que triste. Que pena! Que horror! Todos deviam ser merecedores de te sentir. Até o mau caráter. Fazia-lhe bem. Tu só podes fazer bem. Mesmo quando não és correspondida. Dóis. Mas fazes sentir com muita força. E nós que aqui andamos, devíamos sentir essa força doida e atordoada. Às vezes enraivecida.

Paixão. Esse tombo que se dá no levantar diferente. Energia rara.

Quando apareces, deves ser apreciada.

E andamos nós aqui fugidos dos sentidos. Do tato, do papel e da caneta. Do toque e não do amasso. Da dedicação. Do tempo. Do saber esperar. Devoramos o cheiro antes de o cheirar. E fazemos desaparecer num ápice esta a quem chamamos de Paixão. Por impaciência, gula, comodismo.

Comida embalada e gasta.

Ousamos chamar a isto de irreverência. Fúteis. Ingratos. Devíamos ter-nos mais em conta. Afinal somos aqueles que pensamos mais que outros e os únicos que com palavras somos causadores de verdadeiros delírios.

Donos de tudo e queremos ser isto. Quando nos é dada tal coisa como a Paixão, por favor, fiquem loucos. Fiquem ridículos de românticos, cegos de parvos. Façam coisas. Coisas que fiquem na memória. Coisas de que se orgulhem. Coisas que um dia mais tarde tenham vontade de contar.

A Paixão não é para todos. Não vem e volta sempre. Às vezes vem e escorrega-nos das mãos.

Se te tocar, rouba-lhe a morada e encontra um marco de correio. Não te esqueças, no papel, o perfume.

Ficar louco é isto. E ficar louco não é para todos.

GR

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