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E as ideias não me param na cabeça. Pairam.

Perdi o foco.

Não me concentro em nada e em tudo me perco. O sorriso não me sai dos olhos, dos lábios, do queixo e das bochechas que se comportam separadamente do meu todo. É como se isto que me assola ou cura precisasse de olhos, boca, queixo e bochechas para funcionar. Não. Não estou a dizer bem. Disse tudo errado. Tenho dito muitas coisas erradas. Não as penso. Digo-as. Atiro-as e deixo-as voar como se fossem balões. Inofensivas. Tudo coisas inofensivas.
Isto que sinto põe-me partes do corpo a funcionar separadamente. Agora sim. Acho que acertei. Os meus lábios falam. Acho que pensam até, enquanto os olhos falam numa outra intensidade e, o nariz, tinha-me esquecido do nariz, o nariz tem cócegas. Toco-lhe de vez em quando com a ponta dos dedos para o sossegar.
As pessoas, ai as pessoas, viraram todas cubos, mesas, tigelas e candeeiros miseráveis. E, quando a mim se dirigem, não sei o que me dizem. Não as ouço. Não ouço nada.
Assim que sou descoberta, fico ali, na embaraçosa situação de quem está nu frente a uma enorme plateia, na esperança de não reparem. Ou então na esperança que reparem. Tenho um certo gozo nisto, no estranho que é ser descoberta. E, querendo ou não ser descoberta, descobrem-me sempre. É que não consigo evitar o entusiasmo.

 

Gabriela Relvas

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