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Põe maquilhagem. Enfia o sorriso no rosto. Eles têm que saber tudo e de tudo. Mesmo não sabendo rigorosamente de nada. Autênticas máquinas de fazer bolos. Tudo o que sai dali é fresco e fofo.

Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Tira e põe maquilhagem. Já se cansaram? Eles não se podem cansar. Tira e põe maquilhagem. Agora vamos acordar às 5. Tira e põe maquilhagem. Agora vamos sorrir como se fossemos as pessoas mais felizes e bem resolvidas do planeta.Tira e põe maquilhagem. Agora vamos deitar. Tira maquilhagem. Na cama toca a estudar. Preparar e preparar diálogos, temas e mais temas até se esgotarem temas e se reinventarem outros. Eles têm que saber tudo e de tudo. Mesmo não sabendo rigorosamente de nada. Eles têm que ser especialistas. Autênticas máquinas de fazer bolos. Tudo o que sai dali é fresco e fofo. Pronto a ser servido, olhado, criticado. Muitas vezes provado por papilas gustativas já azedas e ressabiadas com o mundo. Mas eles estão ali, à prova de bala. Impecavelmente vestidos, maquilhados, calçados, queriam eles a roupa larga e os chinelos gastos. Queriam. Ah pois queriam! Queriam eles a cara lavada sem ser olhada no café. Ah pois queriam! Mas eles escolheram o sonho. O compromisso com a lente de aumento. A televisão tem este poder. O de tornar grande coisas pequenas e enormes os lapsos.

E como os sonhos não se medem, corre-se atrás. Com fôlego ou sem fôlego vai-se. Não se tem fôlego arranja-se. Arranja-se fôlego? O fôlego arranja-se! Sabiam? Isto há coisas. Tira e põe maquilhagem.

Acorda às 5 da manhã. Põe maquilhagem. Enfia o sorriso no rosto. As palavras mal dormidas desta madrugada. Está bom.

Arranjou-se tudo. Para esta luta desenfreada. Para este compromisso com o público. Para honrar as corridas sem fôlego. Para ser motivo de orgulho. Para…
Para ser o que não se é. Para chegar a casa sem palavras porque ficaram todas no estúdio. Para não ter tempo. Tempo com a vida.

E vemos muitos a correr pela caixa mágica dentro porque querem aquilo que não sabem o que é. Querem estar impecavelmente vestidos e maquilhados. Com ou sem talento. Querem estar lá. Mas não são esses que acordam às 5 e estudam na madrugada. Não são esses que assumem o compromisso de brio e qualidade com eles mesmos. Esses não resistem.

Ao compromisso dos audazes. A essa teimosia. A essa força que vem de dentro, presto a minha humilde homenagem a todos os Comunicadores Diários que saem das suas casas para dar. Dar o que não tem volta. O tempo. O tempo dedicado à multidão. Tempo que se esquecem deles. No entretenimento e na informação. Porque aquela coisa do ego, isso é no início, nos primeiros tempos. Não é à segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta…

Herói. Grande. Conquistador. Que difícil essa tua escolha. Que coragem. Mas fazer o quê. Foi paixão não foi? Agora aguenta. Afinal fazes o que mais amas. E não saberias fazer outra coisa – não é isto que dizes a ti mesmo todos os dias?

You Rock.

P.S. Escrevi sobre vocês, porque não me parece nada justo não serem vistos de fora desse admirável mundo duro e louco.

Gabriela Relvas

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