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O Sol é uma bolacha Maria que mergulha no leite devagar. Esta é a minha definição de pôr-do-sol, agora mesmo, que o vejo do lado de dentro do meu carro. Ora, com tal definição sei que existe uma grande probabilidade de eu não ser aceite pelas pessoas que habitam o mundo e talvez por isto mesmo eu esteja a ver a bolacha Maria a banhar-se, sozinha. Esta visão vem do rato que me rói a barriga, talvez assim sossegue as mentes que o procuram com máquinas fotográficas metralhadoras e o queiram roubar para sempre. Mas por falar em roubar, à noite, quando vejo a Lua e o rato me rói, imagino-a também ela uma bolacha. Não sei se pela lembrança do Monstro das Bolachas de foguetão, voraz e destemido, com esse objetivo maior de roubar a Lua para a trincar. A verdade é que o penso às vezes, quando o rato me rói. Penso-o com carinho e depois como-a e ficamos todos às escuras. Esse ato infiel com o planeta Terra, acaba também com a luz dos candeeiros de rua. Com as luz dos carros e das estrelas, que me estão a ver. Quando o rato me rói, fico este monstro largado às monstruosidades, capaz de apagar todas as luzes do universo. Às vezes vou atrás da goiabada, no frigorífico. Às 3 da manhã, quando isso acontece, o frigorífico fica sem luz, numa espécie de trama contra mim, em arranjo com a Lua, que não se esquece de quando a comi. Ou então fica sem luz pelo tempo que me demoro a contemplá-lo, nessa tarefa de escolher o que vou comer depois da goiabada. 

Gabriela Relvas

One Comment

  • Rui diz:

    Só tu mesmo consegues elevar os tais acessos de fome (não lhes concedo poder) a uma sublime contestação em que o mundo e todas as coisas giram em torno de ti! E será que não é verdade? Será que não podemos ser donos da lua ou do sol, por sermos tão especiais?
    Sabes que és? Só por isso deviam fazer uma edição limitada de bolachas “Maria” – e que fossem de morrer! Porque de “viver” não se fazem bolachas!
    P.s: Manda arranjar a luz do frigorífico!
    #oquepermanece

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