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Porque já não se declamam poemas. Porque a festa já não é a mesma, talvez porque não se levantam as mangas e não se fazem os bolos, o pão e a mesa em casa com a família toda.

O entusiasmo caiu. A oferta é imensa.

Apeteceu-me por isso fazer qualquer coisa que falasse de amor e felicidade. Um poema que já vos havia escrito, agora declamado.

O QUE EU QUERIA ERA MESMO

Andar aqui e ali
ver o que não vi
E ter o meu acolá
Assim
Já.
Sabido.
Seguro.
Com a fruta vinda da terra
E a mesa,
Contigo.
Atirar para o ar que o mar subiu
fazer a conversa com quem sempre me viu
na casa da Alice e do Zé
onde o café é barato
e o vizinho,
um chato
convicto
alienado
da vida embriagado.
O que eu queria era mesmo
ter coisa pouca
Mas tanta!
A roupa limpa,
asseada
aquele cheiro a lavada
e no sábado o churrasco
no ouvido,
o Zambujo
no pé,
a relva
na mão,
o copo de vinho
no batom,
o sorriso
na saia rodada,
o balanço
nos dedos,
os teus.
O que eu queria era mesmo
não ter ambição desmedida
na profissão,
o trabalho
e não de todo,
a vida.
Na Bola de Berlim,
o sabor
sem cara de arrependida.
No espelho,
assumida
gostada
E as rugas de uma avó amada.
O que eu queria era mesmo
passear-te na minha bengala
e ter-me vestida de gala
vaidosa
orgulhosa
rendida
E ainda que não me levante
e também tu,
Minha Vida
Espero imaginar nos pés,
o passeio.
A nossa valsa.
A nossa dança.
Sempre
e sempre
com laivos de uma criança.

Gabriela Relvas

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