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Acordei. De tão próximos, às tantas já me pareciam tudo menos foguetes. Imaginei um campo de guerra ou um assalto à mão armada!  Eu sabia que a festa não tinha a dimensão dos foguetes e tive até saudades de quando partilhavam do mesmo protagonismo. Este ano a festa já não teve direito aos carrinhos de diversões. Talvez as pessoas já não se interessem por diversão! E ecoou o último foguete depois de uma rajada deles se terem atropelado. Veio-me à cabeça naquele momento se não estaria a dar demasiado protagonismo às emoções que por estes dias me consumiam. O problema talvez não fosse assim tão grave e eu era um disparar de foguetes algo patético. Eu sou bastante palerma. Pensei. E agora que escrevo, concordo e reforço. Sou bastante palerma.

O que me fez puxar do caderno para escrever foi querer falar-vos de amor. De foguetes no coração. Tambores num arraial aceso de luzes penduradas com molas no escuro azul do céu, onde os sorrisos vão rasgados e as gargantas cantam com os dedos entrelaçados (eu avisei que era palerma!). Precisava apenas de um pretexto, não para ser palerma, mas para falar de amor, que é quase a mesma coisa. Os foguetes não são o pretexto perfeito, mas não sei porque raio a esta altura do campeonato me parece necessário um pretexto para falar de amor como se motivo de vergonha fosse! Às tantas é-o, forçámo-lo a ocupar as margens. Já não come à mesa, muito menos vai à festa. É o carrinho de diversões que já não interessa. E deste cansaço vem-me ao coração uma dor que “desatina” e uma incompreensão ingénua, com a certeza de que é preferível doer, do que nunca doer coisa alguma.

Gabriela Relvas

One Comment

  • Rui Ferreira diz:

    Talvez se desvalorize para muitos, precisamente por sabem que dói. Aos sem experiência, por é previsível que vá doer!
    Se forem precisos foguetes, que façam bastante barulho! Só algo assim para abafar a algazarra que se faz quando o que se quer, inesperadamente acontece!

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