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Longe de estar muito bonita, mas consideravelmente mais bonita do que a que a minha memória se lembra. Pedi-lhe daquelas que começam na nuca e só acabam quando o cabelo termina.
A minha mãe nunca teve um toque delicado, diria até que áspero e inesperado, no entanto, o ser humano mais meigo e raro que conheço, o mais perfeito também. Vem de uma raça que esgotou, devia era estar na frente de coisas grandes (ela nunca quereria estar na frente, por isso lhe deveria ser dado o cargo). Pouco ambiciosa, nada amarga. Podia ter-se zangado com a vida e não se zangou. É gente que divide e multiplica. Bate um bolo em 2 segundos e nós cheirámo-lo em 3. Resistente e não desistente. Nas vezes que o mundo desaba surpreende com o sorriso rasgado e faz malabarismos que só ela, até tudo voltar ao doce desarrumado habitual. Não me lembro de lhe ver uma lágrima. As vezes que lhe caíram, fugiu-me e riu-se de costas voltadas, nunca quis protagonismo ou preocupação. Perdoa-me a partilha, queria eu dizer mais, mas deves continuar em segredo para continuares a ser irrepetível.
Disse portanto o que pode ser dito e os que lêem poderão fazer comparações. Se eu dissesse tudo, serias aqui e já incomparável!
Que queres? Amo-a! Posso?
Ia na ponta dos cabelos, onde o cabelo termina. E terminou.
Como eu queria fazer um caracol nos teus braços. Às vezes ponho-me assim grande e enorme no teu colo e peso-te, ainda que tu sentada, como um “camião de chumbo”, dizes tu. E digo-te: queria ser pequenina. Nunca fomos muito de mimos. Pouco, muito pouco. Engraçado, agora apetece-nos mais. É necessário. Agora que eu sou grande e enorme e tu tens as pernas mais cansadas.
Agora que eu sou grande e enorme como sempre quis ser, queria voltar a ser pequena e minúscula. Do tamanho que dá vontade de pegar e pôr no colo. Só para gozar esse teu toque desajeitado e o olhar embevecido. O olhar embevecido que fazes à Maria quando ela diz “bóbó”.
Tenho saudades. Tantas.

Gabriela Relvas

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