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Peguei no meu carro depois do que a vida me preparou para aquele dia, peguei nele pela mão, como se nela coubesse e levei-o comigo, eram 19h30. O dia que acabava estava numa aceitação tão perfeita do seu fim que quase beijava o sol de saudades. Não sei por onde anda a boca do céu, mas se o céu tem boca, beija o sol de certeza em dias assim. E, se não lhe chega, manda-lhe beijos. Eu, num estado atípico de mim acreditei fazerem-me o dia assim de encomenda, alguém na minha imaginação me viu entre portadas e ofereceu-me aquele fim de tarde, porque sim, para mim, porque devo ter feito alguma coisa acertada. Sem esperar e para surpresa minha vi-me a apanhar gotas com a língua. Gordas, saltavam-me dos olhos, que para mais espanto meu, estavam estupidamente felizes. Não sei a que sabe a felicidade, mas deve ter sal e água nos ingredientes, dou os pulsos à certeza que tenho nestes. Disse obrigada, obrigada, obrigada, numa incessante, tola e bonita conversa com alguém a quem chamei Deus. Naquele momento toquei o céu. Fui lá e voltei várias vezes e no caminho, rodopiei, apresentei os meus melhores números, fui tudo o que sempre quis ser.
E sim, talvez seja preciso muito pouco para virar o mundo ao contrário, falo do meu, que a mim pertence. O carro era o mesmo de sempre e o caminho não variou em quase nada, o trabalho continua na mesma linha dos tolos que escolheram isto como eu, na linha zero para mim tudo para o lobby, o amor que não vem com as bolhinhas efervescentes que provocam coisas esquisitas, mas das boas, que isto de viver é duro para se fazer sozinho, a saúde que agora está bem, mas teve tempos intermitentes.
E rodopiei, deixem-me dizer, girei em torno de mim, que me parece mais centrado no objetivo: eu. Tenho-me com objetivo, encontrar a melhor fórmula de mim. E depois, depois ter mais dias de agradecimento honesto e de sabor a felicidade na língua.

Gabriela Relvas

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