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Quando é amor, nós sabemos que é amor. Eu acabei de escrever isto a acreditar e a não acreditar de todo. Talvez acreditando mais do que desacreditando. Só que nunca é. Já me perguntei vezes sem conta sobre a minha incapacidade de me apaixonar. Estarei eu a querer o que não existe? E surge um punhado de questões, uma após a outra. Nunca respostas. Tudo em aberto. Só que quando tens tudo em aberto, procuras, escavas, tentas preencher, num esforço na maioria das vezes pouco honesto contigo. Caminhas numa estrada paralela qualquer que não é aquela por onde queres ir. Não é a das árvores de fruto, nem a do cheiro a maresia. É apenas uma estrada. Fria. Deserta. A do compasso de espera, que acaba por ser a tua vida sem dares conta, onde tudo se constrói em pequenas distrações e não em grandes emoções.

O meu amor não era quem estava à minha frente naquela mesa do restaurante. Não era, eu sabia disso. Mas como as minhas certezas se revelavam pouco certas com o passar dos anos, não fechei a porta. Tive curiosidade, fiz perguntas, mantive a conversa acesa, num esforço quase só meu e numa tentativa estúpida de espremer onde não há sumo. Do outro lado alguém que exerce melhor o scroll do instagram do que manter os picos da conversa, ou pelo menos, que se esconde melhor atrás do ecran. Paguei eu o nosso jantar. Fomos embora. E, no fim, ele disse-me, “como podes estar sozinha?”. Depois ligou-me vezes sem conta, não atendi. Acho mesmo que ele ainda não percebeu porquê.

Talvez acreditando mais do que desacreditando, talvez eu distinga um dia o amor. Talvez não seja eu apenas a manter a conversa acesa. Talvez! Não sei onde pára o amor, mas em conversa de amigas, os homens viraram meninas! Encolhem-se, dizem-se tímidos, chocam-se com o que dizemos e esperam que lhes paguemos o jantar.

Percebes agora porque não atendo? Ma sabes o que me chateou mais? A conversa… a conversa…

Gabriela Relvas

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