Sinopse

«Oh, veio-me uma vontade doida de snifar e lamber os estofos como uma cadela. Dei-me ao desejo naturalmente. Comecei a lambê-los de forma sôfrega. Desde pequena que tenho uma necessidade visceral de sentir o paladar das histórias. Nisto dei conta de uma velha à coca, vestida de preto, com o tempo todo nos olhos e enxada na mão, a lançar-me uma vontade de morte, como se eu fosse a tradução perfeita do horror do mundo: ali, de língua colada à humilhação e de vidro aberto para a rua como se não tivesse vergonha. Dei-lhe tempo (apesar dela já ter o tempo todo nas miras), e deixei que as suas frases me perfurassem por cada dois raios vermelhos que lhe perfuravam também o branco dos olhos. Ont andást nus cops, puúta! Aeé puúta, tenh aqui terren pa tuú cavá inté fazês câll. Aeé puúta, vá pá tuúa térra, puúta! A velha tinha cara de réptil e voz de abutre. Subiu-me um arrepio gelado. O que é que ela estava para ali a dizer? Seria iorubá? Sacudi-me e arranquei, sem perceber porque fiquei inerte, a receber pragas como quem recebe parabéns.»

(AVISOS: Talvez o leitor deva ficar esclarecido logo aqui, este livro é uma tragicomédia. O gosto adstringente da vida ao som de um compasso. Uma câmera metida dentro de uma cabeça inflamada. Tal qual o mundo. Tique-taque. Acrescento, a boca que conta esta história tem nos lábios um canhão. Por isso, muito cuidado com os ouvidos. E muito cuidado com a imaginação. Trata-se de um superpoder que deve ser bem usado. Mais, não estranhe se vir por aí a autora deste livro disfarçada de nota de rodapé, ou pior, de pijama cheio de manchas de café que acumula um cheiro obsceno a corpo.)

Antónia marca umas férias de quatro dias na balsâmica e hipnótica ilha de São Miguel. Com verdadeiras intenções de fazer a ponta de um corno, que se traduz em fugir ao seu nível de alta intensidade, despoluir-se dos oito homens e uma metade que mete na cama, vê-se sozinha com a sua cabeça bomba- relógio, sem conseguir livrar-se do castigo que a assombra: a superstição. Problema que a obriga às situações mais hilariantes, e que se vem agudizando desde que conheceu Maria de Jesus, mulher a quem paga para ser sua amiga, depois de contratada por ser versada em artes ocultas.
A questão que se coloca é: não será tudo isto uma máscara a encobrir coisas que volta e meia atingem como balas quem está vivo?

Um romance selvagem e insólito que não pede licença. A autora escreve com uma faca na mão, abre feridas e cospe-as com vernáculos, faz-nos rir em voz alta mas deixa-nos um inevitável gosto a sangue, que muito podia ser nosso. Tudo aqui é enfermo e genial.

A Autora

Gabriela Relvas nasceu no Porto em 1983.
Licenciou-se em 2005 em Comunicação Social, na Escola Superior de Educação de Coimbra, seis meses dos quais em Groningen, nos Países Baixos, para integrar o programa Campanhas de Comunicação Criativa. Formou-se como atriz no ano seguinte, após o curso intensivo de Formação de Atores, na In Impetus, em Lisboa.
Viveu na capital mais de duas mãos cheias de anos e em 2018 regressou a Esmoriz, de onde é natural.
É escritora, guionista, atriz e apresentadora. Fez musicais, teatro, séries, telefilmes, novelas e cinema. Apresentou programas de economia, saúde, entretenimento e cultura.

Passou pela RTP, SIC, TVI, Record TV, EDP on TV e Porto Canal.

Continua a trabalhar neste carrossel.
A Ilha da Formiga (Coolbooks – Porto Editora, 2019) é o seu primeiro livro, Gula de Uma Rapariga Esquelética de Amor (Suma de Letras – Penguin Random House, 2022) o seu primeiro romance e Uma Vaca a Arrotar Metano (Visgarolho, 2024) a sua realização mais insana.

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Uma vaca a arrotar metano

A partir de 15 de Maio

Uma vaca a arrotar metano