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Meu amor, como te sentes hoje? Conta… como foi o teu acordar esta manhã? Que primeira imagem foi essa que viste quando abriste os olhos?

Acordaste com a luz do sol a furar as frinchas da janela?

Sabes, sinto que sim.

Hoje, aqui no meu quarto, do lugar de onde te escrevo, fazia sol pelas 7h. O sol deixa-me sempre entre este misto de amor e “desamor”, mas não o consigo evitar. Sei que me pode acordar antes da hora mas dou-lhe sempre espaço na janela, como se ele precisasse dos metros quadrados do meu quarto para se espreguiçar. Gosto tanto como ele se estende! Desculpo-o sempre por me antecipar o despertar.

E tu meu amor? Como te espreguiças? Espreguiças-te? Em que estado abandonas os lençóis? Mexes-te muito durante a noite? Deixas o sol entrar?

Meu amor, estava frio fora do teu ninho? Precisaste de uma malha para ir até à cozinha?

Meu amor, meu amor, meu amor… meu amor apetece-me falar-te ao ouvido enquanto abraço o teu rosto com as minhas mãos e muito devagar deslizo até aos teus olhos. Deixar-me ficar ali, no gostar de cada milímetro de ti é o filme que quero gravar na memória sem esquecer os diálogos mudos. Admirar-te deve ser das coisas mais singulares da minha existência.

Acabei de apanhar a roupa lá fora. Sentiste as nuances do dia? Quem diria que hoje ia chover. Meu amor, não me importo de falar do tempo contigo. Não me importo de não termos assunto e do não assunto criarmos um diálogo de pontas soltas…

O que fazes a esta hora? Preparas o jantar? Estás sozinho na sala… terás alguém no sofá deitado no teu peito?

Meu amor, ela faz ideia do quanto estás por preencher? Não será melhor dizeres-lhe? Partires à minha procura que não te encontro?

O vosso diálogo de pontas soltas faz sentido? O nosso faz sabes. Sinto que faz. O que fazes então aí tolo?

Tenho medo de me esquecer deste anseio de ti, por isso escrevo-te cartas. Sabes quantas já te escrevi? Espero-te como esperavam os grandes amores em tempos de guerra. Não quero que percas as minhas transformações.

Sabes que o meu rosto está diferente? De repente e sem dar conta ganhei entre as bochechas e os olhos este amontoado de rugas. Dizem-me que me rio muito, de tudo e com tudo. Imagina quantas mais teria ao teu lado! Imagina a imensidão da felicidade!

Meu amor, como será o teu rosto? Diz-me que não te encontro. Grita que não te oiço! Faz um cartaz, acena do ponto mais alto!

Meu amor, não te acanhes. A minha sensibilidade a ti vai saber que és tu, tenho a certeza.

Gabriela Relvas

P.S.: Escrevi ao som desta música. Viciei-me nela, não consegui evitar. Experimentem ler com esta melodia de fundo. Foi assim que me embalei em cada palavra. 😉

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