A Helena queria que ele a impressionasse com palavras. Esperava que a próxima mensagem a fizesse resolver equações cúbicas e quase ficar sem resposta, numa inquietude de quem não se sacia com nada.
Ela e ele eram só mensagens. Tudo mensagens. Não se conheciam, muito menos se respiravam. Eram só o frenesim e a impaciência daquilo que os dedos poderiam desenhar no ecrã tátil do telemóvel e às vezes do computador.
– Narrador! Não era frenesim. Nunca foi frenesim. Desta vez não.
Só que, desta vez, a Helena não se sentiu num labirinto de palavras. A tonta da Helena pisava um terreno sem labirintos e sem terras movediças. A tonta da Helena, desafiadora e “complicadora” da palavra, de repente, não tinha nada para resolver.
O jeito pouco ardiloso de quem dedilhava do outro lado fê-la ferver de impaciência (estúpida Helena! Tu que te dizes esse bicho simples ambicionavas uma viagem idêntica a todas as outras. Labiríntica e ardilosa. Desculpa-me Helena, sei que me ouves, mas às vezes apetece-me mesmo chamar-te nomes. Mas são sempre carícias na tua cabeça. Gosto de ti, tu sabes).
Do outro lado estava alguém mais parecido com a Helena que nunca. Simples e fácil (mas tu, Helena, aprendeste esse jeito ardiloso como lidavam contigo não foi?).
– Tenho saudades da simplicidade dele. Tenho saudades de ser simples também. Muitas. Não era frenesim, era outra coisa. Melhor. Ah! Não te disse, mas vi-o uma vez. Tinha os olhos mais bonitos que já vi. Davam para ver por dentro.
Gabriela Relvas