Quando nascemos mulheres e temos 34 anos, o mundo passa a comportar-se de forma estranha. Falo do meu mundo, o único que conheço e que a saber, sei muito pouco. Ainda assim, purgar estas matérias, falar-me, é um remédio que não se vende.
O mundo passa a comportar-se de forma estranha e conheço uma boa representação de seres da minha espécie para tornar este argumento plausível de estatística.
Os seres que nos são próximos, os periféricos e os demais, colocam-nos em cima uma boa dose de falta de fé. Sabem os bolos, que se definem pela cobertura que lhes colocámos? Cobrem-nos com falta de fé e passamos a ser exatamente isso, um mar de inexistência de esperança em nós para grandes feitos. É como se existisse um número limite de tentativas por mulher, para alcançar o que quer que seja, que se esgota à porta dos 34.
Já fui o cavalo no qual mais se apostava. Já fomos o cavalo das grandes apostas.
Lembro-me agora mesmo de ter dito há dias a uma amiga que não desisti de ser atriz. A resposta foi deliciosa. É incrível como as não respostas respondem a todas as perguntas. É delicioso perceber que entre a mesma espécie existe esta ode discriminatória. E digo-o delicioso, porque pensamos e agimos exatamente como o mundo dita, mas de peito cheio dizemo-nos emancipadas, modernas!
Também a minha amiga esperava que a esta data eu estivesse com uma barriga enorme e explosiva. Com um Tomás ou uma Beatriz para dar sentido à minha vida miserável. Que fosse a esposa de alguém! Que obrigasse alguém a ser meu esposo! Que arranjasse um tipo bacana para me aquecer os pés na cama e se preocupasse comigo.
“Se não estás com alguém é porque tens algum problema” é talvez a frase que fica deste 2017, por tantas vezes que a ouvi. Eu e a casta que represento. E depois vêm os conselhos sobre como lidar com o sexo masculino, porque, para quem os dá, eu tenho, obviamente, dificuldades extremas com o sexo oposto. Ora, é delicioso!
Entendimento sobre este assunto está totalmente fora de questão, principalmente se for eu a terminar a relação. É um detalhe que se inverte. Se estou sozinha aos 34, fui claramente deixada, abandonada, devolvida à família. É delicioso.
E que bom que tem sido não fazer parte deste ditar, que bom que tem sido descarrilar.
Atirem-me as pedras, que o meu mal foi sempre esta vontade de viver.
Feliz 2018. À nossa casta! Aos sonhos dos 34, dos 35, dos 40 e dos 65. À vida imensa que nos espera e ao tanto que temos para dar. À fé em nós. Ao amor no coração e na cama, porque para aquecer os pés há uma diversidade imensa de aquecedores, peúgas ou carapins.
Gabriela Relvas
Também faço parte dessa casta! Aha
Estás muito bem!
“O mais importante na vida, é ser criador. Criar beleza!”
António Botto
Continua a escrever beleza!
Feliz 2018 Gabriela
Feliz 2018 Paulo! Que seja um ano memorável, pelas melhores razões.
Maravilhoso post fazemos ambas parte de uma casta em que nossos pais nos criaram para sermos livres e independentes, tivemos a sorte de ser lindas e inteligentes e depois que acontece? Somos inteligentes e perigosamente lindas demais para casar. Somos velhas e burras demais para de uma forma livre e independente perseguirmos os nossos sonhos:
Antes de outra coisa um feliz 2018 Ana! Obrigada pela partilha. Não me sinto nem muito linda, muito menos perigosamente linda! Não vejo o casamento relacionado com a beleza. De uma coisa estou certa, vou-me sentir mais depressa feia que velha ou burra. O espírito livre, esse sim, é o meu maior castigo. Trago-o comigo sempre. Um grande beijinho.